sábado, 27 de junho de 2009

No matter what you do, you know...the world, it keeps on turning.

"Gira mundo, gira vida, gira-gira...gira, e me diz quando vai cessar a Era das Mudanças. Já estou farto dessa fartura de transformações inesperadas." - disse alguém certa vez.


Mudanças. Atingem até o mais sádico dos voivodas. E nem sempre são bem quistas.
Duvido, por exemplo, que o sanguinário do Vlad Tepes tenha gostado de ser passado para trás pelo irmão, perdendo, assim, seu trono.
Quem está no comando disso?

Vida, vida.
A vida é uma coletora de mudanças...cargo exercido sem nem ao menos uma especialização no assunto.
Nada de tratamento VIP para suas taças de cristal ou seus lençóis 100% algodão egípcio. Qual nada! Ela joga tudo num só baú, sem distinção.
A vida é bárbara!

Triste é que seria inútil afirmar que tal estratégia de ação é mal sucedida. Afinal de contas, quem somos nós para julgar os métodos da pioneira no mercado? Como a mais antiga do ramo, ela conquistou o direito de ousar. E como ousa! Ousa a ponto de deixar seus clientes, como diz o ditado, num mato sem cachorro (e sem a alternativa de caçar com o gato).
Ê, vida danada!
Espetacular é quando a vida opera alguma mudança e chega um fulano, metido a visionário, que diz "Deus sabe o que faz". Dá vontade de sentar-lhe a mão na cara! Por que meter Deus nos negócios da vida? E Ele tem nada com isso? Ela que se vire com as quedas da Bolsa. Deixemos o rei dos filantropos em paz.

A verdade é que "amigos, amigos, negócios à parte" é a lei do mercado. Quando a vida fura conosco, prontamente dizemos que ela é uma merda. Quando ela acerta com as mudanças, ô vidão bão sô!
A "marvada" é mesmo versátil. Porém, há coisas que não mudam nessa empresa de mudanças. A morte, por exemplo. O único "método" que nunca sai de moda, embora geralmente não seja a menina-dos-olhos dos clientes. Eles preferem ganhar na loteria, curar-se de doenças, casar... mas morrer, não.
Morrer é a última das mudanças, para a qual não há sistema de devolução ou de troca.
Morreu, e ponto.
Não há nada, nem ninguém, que mude isso.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Água de coco

Alice não tinha muito mais o que dizer. Havia esgotado seu contingente anual de esperanças em um só dia. Que se há de fazer?
Ele não compreende. Ou melhor, não quer compreender. Decerto é mais cômodo assim. "Vai saber o que se passa na cabeça de um artista!", pensava ele.
Ela esperava que por ser ele alguém de mente aberta, estaria ela, automaticamente, livre de maiores embargos. Mas não é que ele resolveu empacar como um burro velho?
Verdade que não fazia sentido algum continuar com a latumia. Já passava da meia-noite, e Alice estava cansada de tantas delongas. Fora um dia comprido, daqueles dos quais não há como escapar antes que ele termine.
Ele queria casar, constituir família, ter uma casa. Ela também. Só que a casa que ela queria era uma do tipo andante, viajante. Residência: mundo. Enraizar-se num lugar não era para ela. Alma livre, leve, solta. Uma borboleta que sabe que sua existência é efêmera, e que, portanto, deve ser saboreada como o mais delicioso dos desjejuns.
Alice não gostaria que chegasse o adeus. Ainda mais por um motivo banal. Que há de mal em não criar raízes? Onde reside a ofensa disso? É tão estapafúrdia assim, a ideia do não-sedentarismo?
Ela não via o porquê de tanta tempestade. Ainda por cima, em copo d'água. Sim, porque o mundo dele parecia restringir-se ao copo, enquanto o dela era uma jarra inteira. Unidos apenas pelo conteúdo, pela água, pelo amor.

(É o que preenche o recipiente suficiente para matar a sede de vida de Alice? É o amor suficiente para preencher todo o seu ser, invadindo espaços outrora habitados por outros anseios?)

Alice o amou, sim, o amou até a última gota de amor. A ele também foi permitido sentir-se assim. Por isso, libertou-a. E ela fez o que quis com o presente que Maneco lhe deu: construiu um futuro.
Um futuro no qual havia um trailer, um copo, uma jarra e duas alianças de quenga-de-coco.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Amargo como cabo de guarda-chuva

Decepção. Apenas mais um combo trazido pela correnteza da vida. E as pessoas são milhões de barquinhos boiando à deriva nesse mar de combos-desilusões.

Por que raios precisamos nos deparar tão frequentemente com este combo? Por que, apesar da assiduidade com que nos é entregue (em domicílio), ainda nos surpreendemos com sua chegada? É inútil pensar que existe qualquer controle nas entregas. A impressão que dá é de que os motoboys escolhem aleatoriamente seus clientes, de modo que a pizza, juntamente com o refrigerante e a sobremesa, é entregue quando menos se espera. E vinda de um lugar igualmente inesperado.

Trata-se de um ciclo vicioso, sem fim. As pizzas-decepções estão sempre chegando, por mais que insistamos não apreciar seu sabor. Nada de mozzarella ou champignon. Seu gosto é amargo, mais amargo que qualquer ressaca. Mas assim como o álcool, é um vício. Confiar nas pessoas é um vício. Um vício que precisa ser abolido, para nosso próprio bem. Mas como?