quinta-feira, 28 de maio de 2009

Letters...from Joe to Mary.

Mary,
Estou com 29 anos, como bem sabes, e, infelizmente, a sorte muitas vezes deixou de me sorrir. Claro que isto não é a grande novidade na vida de ninguém, mas as proporções de tal fato, para alguém cuja angústia reside em se ver obrigado a continuar existindo, são imensas. Maiores do que é possível conjecturar. E por mais inacreditável que pareça, sempre te incitam a não desistir.
Confesso que nunca dei real atenção a tais apelos. Nunca, até o dia em que recebi tua carta. Me senti disposto a tentar a vida, nem que fosse apenas por tempo suficiente para enviar-te meu rabiscado coração.
Não sei se sou a criatura mais indicada para dizer-te o que podes fazer ou não. A verdade é que foi tu quem me mostrou que posso...que posso continuar vivo.

"Na verdade é digno de nota aquilo que a alegria e a felicidade podem fazer a um homem. Como o amor exalta o coração! É como se ele, todo inteiro, se derramasse dentro de outro coração e desejássemos que toda a gente se sentisse feliz e sorrisse à nossa volta!" (Noites brancas - Dostoiévski)

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Letters...from Mary to Joe.

Querido Joe,
Quem penso que sou para ousar ludibriar a mim mesma? É cabível  enganar o próprio cérebro com falsos pensamentos de que está tudo bem em viver uma "realidade ilusória"?
O encanto mora nas conversas que teimo em adiar comigo mesma, mas que sempre, invariavelmente, acabam por vir à tona.
Gostaria de ter controle sobre o que sinto, especialmente agora. Dar brecha a tal sentimento, no momento, pode ocasionar o arremesso de meu coração a piranhas famintas de carne e a algozes sedentos de sangue.
Me digas que posso. No entanto, só o faças se for mesmo possível. 
Desisti da meia-luz dos candelabros. Anseio pelo ardor dos raios solares em meus olhos. Se não puder gozar disso, melhor mergulhar de vez na densa escuridão das profundezas oceânicas, e me tornar um ser abissal.
Talvez este não seja o modo mais indicado de desabafo. Desculpe. Acontece que me sinto mais confortável com as palavras escritas do que com aquelas proferidas, pronunciadas.
Entendimento, provavelmente, não é o caso. Sem maiores implicações. Apenas uma mísera solução?
Nunca aprendi como resolver equações de segundo grau, e esta parece ser uma daquelas elevadas à zilionésima potência. Poderias tu?
Ah, se soubesses como é indescritivelmente duro isso de sentir! Ainda mais quando se evitou, fortemente, durante toda a vida.
É como a abertura das comportas de uma represa após dias e mais dias de chuva incessante.
Encontraste, no que antes era um espectro sentimental, alguém que te ama. O que sentes tu?

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Macrocosmo pelo microscópio

Quando falamos em microscópio, logo vem à mente a imagem de microorganismos em cadeias bem organizadas, a exemplo das bactérias, dos vírus, dos fungos. Mas e se nós nos colocássemos na posição de seres microscópicos?

Na verdade, seria apenas uma implantação mental de algo real. Afinal de contas, comparados à vastidão universal, somos praticamente amebas. Fato é que somos as amebas mais destrutivas e menos altruístas do Universo!

Fadados a uma existência medíocre, os seres humanos-amebas caem na desgraça de achar que são a representação da evolução, que não há nenhuma razão para crer que há criaturas pensantes fazendo tours interestelares (leia-se: seres humanos-amebas realmente não pensam). Acredite se quiser, mas os humanos-amebas são mesmo de uma impáfia inimaginável em outras galáxias. É de causar repugnância até no mais asqueroso dos aliens!

Há muitas evidências que levam a crer que não partilhamos de um organização social impecável como a que observamos por parte dos verdadeiros microorganismos. Como é possível? Isso é só mais uma confirmação de que tamanho não é documento...quem dera fosse! Assim, não viveríamos na imundície de sentimentos e sensações que experimentamos todo santo dia. E devemos toda essa sujeira à maldita confiança de que podemos tudo. Nossa! O Olimpo anda lotado, não?

Mas...recapitulando. Humanos-amebas são grandes em tamanho e pequenos em todo o resto. Creio que isso já é mais do que podemos esperar, e mais óbvio do que seria saudável a uma espécie animal. Se não fôssemos tão bons em construir armas de destruição em massa, já teríamos sido dizimados no lugar daqueles que dizimamos. Lei do mais forte? Não. Lei do mais cruel.

O caso é que humanos-amebas enxergam o Universo por uma perspectiva ínfima. Seu limitado campo de visão só chega até a região do umbigo, e isso é um sério infortúnio. É como pretender inverter a ordem natural das coisas. É como pretender admirar o macrocosmo através das lentes de um microscópio. É como pretender ser o cientista-senhor-do-universo.


domingo, 17 de maio de 2009

Se desfaleço, nasci.

Difícil organizar os pensamentos numa caixa já cheia de memórias...
...gostaria apenas de dispor de algum dispositivo 'porta-lembranças'.
Se alguém me perguntasse, diria que não. O que é 'não', não sei. O que sei é que a vida está tão impregnada de 'nãos' que, muitas vezes, nem é preciso perguntar para decifrar a réplica.
Sei que eu talvez devesse recolocar-me quanto a isso. Mas a questão, que, por sinal, vem me consumindo os miolos, é como
Não sei, não sei.
Nem tenho ideia do motivo que me impele a escrever essas linhas. Tentativa desesperada de reconforto? Talvez. Mas desconfio que não o encontrarei assim, tão simplesmente. Até porque, não seria a primeira tentativa.
Me arriscaria a dizer, até, que estou sendo movida por um ímpeto desconhecido, que vai para além de meu domínio. Uma vontade inconsciente de me sentir vista, querida...quiçá amada.
Não me pergunte nada. Apenas me interprete.

Talvez, talvez.
Talvez seja. Talvez não.

O que diria se talvez...se talvez desfalecesse rumo ao "sono dos justos"? Ah! Quanto tempo sem uma visita decente das fadinhas do sono...elas parecem sempre apressadas demais para um chá!
Nascimento. Nasce uma história. Nascem duas, três. Mas nunca serão um número suficientemente grande para suprir a necessidade de respostas. Respostas a estímulos não-estimulados; respostas a questões sobre a essência da vida; respostas.
Existem mesmo? Ou são mero fruto da expectativa?

Sei o que espero. Espero ser vista, querida...quiçá amada. Há alguma resposta para isto?


sexta-feira, 15 de maio de 2009

Maldito despertar...

Olhos abertos. Estou desperto. Ao menos, meu corpo está. É que mente e corpo já não trabalham em uníssono. Minha mente caminha em time próprio, só seu, e isso faz toda a diferença. Não sei dizer ao certo o que seria "toda a diferença"; só sei que é total.

Eu deveria ter imaginado que precisaria de algum tempo antes me içar cama afora. Os pés funcionam, as sinapses não. Resultado: tombo matinal, tanto no sentido literal, quanto no figurado.

Acontece que, no exato momento em que meus noventa quilos tocavam o porcelanato, me lembrei do que estava causando o apartheid em meus neurônios.

Percebi logo que seria mais indicado não ter recordado, ter esquecido o acontecido, tê-lo apagado, deletado. A verdade é que não me sentia, de modo algum, preparado para aquilo. Não é algo que esperamos que vá acontecer, muito embora saibamos da possibilidade. Não é certo como a morte, nem impossível como escapar dela. É apenas passível de acontecer.

Ah, a dor da perda.

Um tipo diferente de perda, é verdade. Perda opcional, pelo menos até certo ponto. Poderia desculpar, perdoar, se quisesse. Mas não quis. Não posso perdoar algo que não faz sentido para mim, algo que está fora do alcance de minha compreensão.

Ah, a dor da perda.

Foi quando meu melhor amigo e minha flor saltaram, sorrateiros, para fora de mim.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Morte, sina de quem vive.


Acalento.
Quem sabe não é isto o que sentimos
quando do beijo da morte?


Toque gélido, frio.
Ao mesmo tempo é afago suave, macio.
Doce enlace libertador.


Talvez seja mesmo uma aventura,
daquelas que mexem de súbito com nossas percepções.


Morte.
Desalento pra quem vive,
descobrimento pra quem morre.


Um sonho translúcido e multifacetado,
que deixa atordoado até o mais corajoso dos seres
e possibilita o alívio de quem sofre.


Morte.
Desalento de quem vive.
Acalento de quem morre.