terça-feira, 29 de setembro de 2009

Expatriado

Encerrei-me. Este é o sentimento. Lacrei as cancelas de meu ser e, no íntimo, me fechei para o mundo "real". Havia já algum tempo que não me parecia sólida a ideia da conversação. Falar de quê, para quê e, principalmente, com quem?
Tive de me acostumar ao fato de não ser mais necessário, de minha existência ter sido reduzida ao pó. Quem quer que insista que digo sandices é louco.
Perdi o poder de sentir a brisa leve das montanhas em meu rosto. Já não enxergo o azul do céu nem percebo o olhar melancólico e preocupado de meu cão. Pobre Eddie. Como estará sem meus afagos e sem nossos passeios intermináveis pelo parque?
Não sei onde meus pés me levam. Não vejo, não sinto, não ouço, não falo. Só escrevo. Escrevo cartas, das mais diversas. Talvez seja um prazer comum aos expatriados. Pena que do lugar donde parti não há escapatória...


É possível fugir de si mesmo?

3 comentários:

0800-shock disse...

Se SI é a sua pessoa. EU é a minha pessoa e eu SOU. Temos que SER exprime a existência sem esse carácter(marca, cunho, impressão) absoluto, SER é também acontecer, indica o momento, exprime a realidade, é o acontecer, o ocorrer, o estar, o ficas o tornar-se.
Se SER é aquilo que é, o que existe, a existência, a vida, o momento então a única maneira de fujir de SI, de SER, é deixando de ser, portanto, deixando de existir.

Gabriela Alcântara disse...

não só possível, como infinitamente recomendável, de tempos em tempos.

Medusa dos Olhos Cegos disse...

Fugir da nossa realidade é passageiro... Se conseguirmos nos concentrar em enxergá-la de uma forma diferente. De uma forma acima do que vivemos, eu acho que podemos aproveitar toda a vida ao máximo.