quarta-feira, 15 de abril de 2009

O escafandro e a borboleta (de Julian Schnabel)

Incrível a capacidade de criação dos franceses...

O que é um único olho como ângulo cinematográfico senão um serpeante caminho rumo aos verdejantes vales da salvação? Principalmente quando já se está à beira de um ataque de nervos frente à mera possibilidade de o cinema francês terminar encurralado na convenção 'Amélie Poulain'.
Mas, calma! Antes que os amantes do casório verde-vermelho saquem as pedras e desentolem os chicotes, deixe-me explicar. Não é que, absolutamente, não goste de Amélie. Ao contrário, considero-a uma criatura essencialmente humana. No entanto, haveremos de convir que "rotas" diversas são necessárias, não apenas na sétima arte, mas em todas. A mesmice não é arte, é decoração.

Jean-Dominique Bauby. Confesso que prefiro Jean-Do. Que seja, então!
Jean-Do. Borboleta. Aprisionada num escafandro. Mas não nas condições usuais, nas quais o escafandro seria um eficiente protetor para seres não-aquáticos quando em contato com as profundezas marinhas.
Não. Dessa vez, o escafandro vem sob o papel de "porta-grilhões", atando a borboleta-sedenta-de-vida às suas próprias memórias, obrigando-a a repensar atitudes, decisões.

Atou-a à liberdade. A liberdade que vem colada ao fim das ilusões, do imediato, do avassalador. A liberdade que dói.
A dor de Jean-Do reside em sua própria existência. E nesse ponto, nós, humanos, somos todos "farinha do mesmo saco". Afinal, o que são nossas dores, sejam de ordem física ou psicológica, senão frutos do escafandro chamado existência?